segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Sim, eu quero acreditar!

O slogan mais marcante dos últimos tempos foi o “Yes, we can!” (Sim, nós podemos!, em tradução livre) incessantemente repetido por Barack Hussein Obama em sua campanha vitoriosa para se tornar o primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Mas será que ele pode mesmo? Já imagino o Obama apontanto o seu indicador no meu nariz desconfiado e gritando: “Yes, we can!” E eu responderia: “Sim, eu quero acreditar!”

Semanas atrás, o G20, grupo dos países mais ricos e dos principais emergentes, reuniu-se em Londres. O objetivo era definir uma estratégia para combater a crise financeira global. Ao fim do encontro, o anfitrião Gordon Brown, primeiro-ministro do Reino Unido, fez um anúncio em nome de todos os líderes participantes da reunião.

“Hoje é o dia em que o mundo se juntou para lutar contra a recessão global. Não com palavras, mas com um plano de recuperação e reforma que conta com um esquema claro de trabalho”, disse ele citando vagamente algo sobre a economia verde. Obama, o carismático (não o bárbaro que estão pintando nos quadrinhos), também falou bonito. “Hoje, os líderes responderam com esforço sem precedente”, declarou. Lula, chamado pelo norte-americano de “o líder mais popular da Terra” - o que até faz algum sentido se, primeiramente, descartarmos o mais popular, que é o próprio Obama - também deu sua opinião: “Foi bom não só para o Brasil, mas para a esperança e o futuro da humanidade”. Será?

Eu quero acreditar! Quero ter fé de que aquele tenha sido mesmo o ponto de virada. Mas será que foi mesmo?

Para ambientalistas do mundo todo, não foi não. Eles estavam desapontados com a falta de comprometimentos mais claros com o ambiente e os empregos verdes. É difícil dar crédito aos políticos. Primeiramente, porque já estamos calejados de ouvir discursos bonitos que não se tornam ações concretas. São as retóricas vazias, de que tanto os ambientalistas reclamam. E parece que eles têm razão. Uma indicação disso foi o fiasco do econtro das Nações Unidas em Bonn, na Alemanha, realizado na semana passada.

Mais abrangente do que o G20 de Londres, Bonn recebeu 2.500 representantes de 175 países. Em pauta, estava a criação dos termos de um acordo climático a ser assinado em Copenhagen, na Dinamarca, em dezembro. O documento, se houver algum, deve substituir o Protocolo de Kyoto. Foi então que o mundo ouviu o primeiro “Não, nós não podemos” (não exatamente com essas palavras) do Obama. Justiça seja feita, é louvável a disposição dos Estados Unidos em participar das discussões sobre o aquecimento global, o que não ocorreu em momento nenhum durante o governo de Bush.

Mas Jonathan Pershing, o representante Americano nas discussões em Bonn, disse que os EUA só tomariam as medidas que fossem possíveis do ponto-de-vista político, econômico e tecnológico. Isso, de acordo com as propostas apresentadas, significa que os americanos querem baixar suas emissões para os níveis registrados em 1990 em um prazo que se estende até 2020.

Países como as Filipinas disseram que os ricos deveriam cortar mais: algo em torno dos 40% entre 2013 e 2017, e mais de 50% entre 2018 e 2022 dos níveis registrados em 1990. Isso é mais ou menos o que o Greenpeace defende. Quero ver até onde o presidente Obama está disposto a ir nessa questão. Se for para fazer, que faça direito. Enquanto isso, o Brasil, herói até então desconhecido na área de energia limpa, quer investir mais em termoelétricas. Isso significa maior dependência dos combustíveis fósseis e, consequentemente, mais carbono na atmosfera brasileira. De acordo com o Plano decenal de Energia 2008/2017, o país vai aumentar para 5,7% a geração de energia proveniente dessas fontes sujas. Isso não é bom exemplo de um herói.

Pois é. Eu quero acreditar! Mas está difícil.

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